Foi por acaso que o projeto Zivug nasceu, a partir de uma ligação entre a dentista Fanny Aker, de Curitiba, e o rabino Yossef Benzecry. Ela ligou para pedir alguns conselhos, muito preocupada com a assimilação que ocorre em sua cidade e com toda a comunidade judaica, no Brasil, e no mundo. “Conversando, nós chegamos à conclusão que a tecnologia teria que ser um grande aliado neste projeto”, conta.
Zivug – Fanny, conte como começou sua participação no projeto e qual a importância dele?
Fanny Aker – Eu estava preocupada com a assimilação em Curitiba, onde se percebe que o número de judeus cai muito, a cada ano, e ocorre uma assimilação grande, com grande perda de valores judaicos. Então, liguei para o Rabino Yossef Benzecry para pedir uns conselhos.
O Rabino e eu chegamos à conclusão que a tecnologia teria que ser uma grande aliada no projeto e não somente bastava eu trocar algumas informações e figurinhas, como é no dia a dia.
Então, nós ficamos quebrando a cabeça, pensando em como poderíamos alcançar meus objetivos para melhorar estes canais para que judeus conhecessem outros judeus, não apenas por meio de ligações, mas que fosse algo mais automatizado e sistematizado, com o auxílio da informática.
Após diversos meses de reuniões com ele, chegamos ao consenso de criar um projeto chamado Zivug; então, desenvolvemos o site e criamos uma metodologia.
O Zivug tomou uma proporção nacional e até mesmo internacional: você esperava por isso?
Realmente, ficamos surpresos com o alcance que o projeto teve. Hoje, além do Brasil, claro, temos candidatos do Panamá, Israel, Argentina e Uruguai.
A gente vê que é uma necessidade muito grande e a rotina das pessoas hoje é bastante complicada, ainda mais com a pandemia, que foi um motivo bem forte para deixar os jovens deprimidos e tristes por ficarem sozinhos.
Então, nós realmente precisávamos de um mecanismo que trouxesse alegria para essas pessoas e que estavam procurando uma inserção maior.
O Zivug tem ajudado vários candidatos a encontrarem o seu par, mas tem muita gente para ser apoiada, já que nem sempre tudo é tão rápido. Como lidar com as expectativas dos inscritos?
Os candidatos têm certos desejos, mas nós não temos, infelizmente, uma varinha de condão em que o inscrito, de repente, transforma-se no homem mais rico, mais bonito, aquela pessoa que todo mundo quer ou deseja, já que somos todos “normais”. Os candidatos são “comuns”, ou seja, trabalham, têm seus problemas financeiros, suas alegrias, vontades, aborrecimentos, de modo geral, como qualquer ser humano.
Nem todo mundo é um artista de cinema, então, realmente existem diversas expectativas. Mas, devagar, as pessoas vão vendo que cada panela tem sua tampa. Se há uma tampa de 20 centímetros, não vai se encaixar em uma panela maior, de 30 centímetros, e vice-versa. Então, devagar, as pessoas vão se olhando no espelho e amadurecendo.
Quanto tempo você dedica para fazer shiduch e como consegue conciliar esta ocupação com o seu trabalho, de dentista e empresária, e suas obrigações familiares?
Nós não temos um horário fixo dedicado para fazer shiduch. A gente está, na verdade, 24hs por dia envolvido nisso, a todo momento que seja possível, quando temos uma brecha, estamos sempre falando com um candidato ou esclarecendo alguma questão.
O importante é que as pessoas encontrem uma porta aberta; alguém está preocupado com elas e quer que elas encontrem o seu parceiro. Isto é um fato essencial, porque espanta muito a assimilação e a falta de conexão com os judeus. É interessante que os interessados saibam que existe essa abertura, onde eles possam encontrar alguém.
Qual a importância do Zivug, no sentido de tentar resolver o problema da assimilação?
A assimilação é uma questão muito grave na nossa comunidade, principalmente em comunidades afastadas, que estão longe de grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo. Assim, de modo geral, a América Latina é um lugar de bastante assimilação…Na verdade, o mundo inteiro sofre, hoje em dia, com esse problema, e todas as tentativas têm que ser feitas para evitar isso. Tudo é válido quando se fala em combater a assimilação.
Quantos casais você acredita que já conseguiu formar? De que forma eles foram apresentados?
Em relação a casais, nós fazemos muitas conexões de pessoas. Então, diversas vezes, uma pessoa conhece outra, que indica outra. O importante é que as pessoas se conheçam.
Alguém que está no sofá, pacificamente, vendo a vida passar, não vai arranjar um shiduch, ninguém vai bater na porta dela! Ele (a) tem que se mexer, ir atrás, conhecer gente, ir em projetos (não só o Zivug), viagens, etc. Encontrar ou conhecer alguém não é algo que vai cair do céu. A pessoa tem que batalhar e ir atrás dos seus objetivos.
Quais são os próximos passos do Zivug? Existem novas metas a serem atingidas?
O rabino encontrou, junto com a Chana Guitl Boimel e o Mauro Boimel, diversas formas para trazer melhorias tecnológicas para este trabalho. Então, buscamos pessoas extremamente qualificadas para isso. E, assim, fomos reformulando o site, fazendo mais eventos e aumentando a penetração em diversas comunidades com ajuda, inclusive, da CONIB e das federações estaduais.
Qual é a sua motivação em tentar ajudar as pessoas a se casarem?
Com certeza, o povo judeu tem 5682 anos de história e isto aconteceu devido aos casamentos: judeus têm que casar com judeus, é o elo de uma corrente.
Então, nós queremos sempre que todos tenham a possibilidade e a alegria de continuar com a tradição do povo judeu, é algo muito importante. Afinal, nós não recebemos a Torá à toa. Temos diversas responsabilidades e deveres. Nossa vida é assim: sempre temos que estar envolvidos.
Gostaria de mandar alguma mensagem?
A mensagem é que nós precisamos de mais pessoas que se envolvam, que ajudem, apesar que sentimos uma empatia muito grande da comunidade com o projeto, já que o Zivug pertence à toda comunidade, não é um projeto do Rabino Yossef Benzecry ou da Fanny, é de todos! Então as portas estão abertas aos que quiserem ajudar, dando dicas, trazendo pessoas…tudo ajuda neste meio! Vamos juntos, assim somos mais fortes!