É chegada a hora de um dia tão sonhado! Pela noiva, pelo noivo, familiares, amigos. São tantas pessoas envolvidas!
Porém para o judaísmo, além de um dia de festa e muita alegria, esse é um dia voltado à santidade e a conexão com D-us.
Os noivos jejuam por longas horas, dedicam-se às orações, à leitura do livro de Salmos (Tehilim), praticam neste dia atos de bondade, como a tsedaká e fazem uma intensa reflexão espiritual.
Diz a nossa tradição que esse dia é tão importante que o novo casal é perdoado de forma total e absoluta por D´us, por todas as transgressões que foram cometidas anteriormente, sendo considerado um Yom Kipur particular para ambos.
Assim, neste dia, noivo e noiva entram na chupá (pálio nupcial) com alto nível de pureza, para que recomecem a vida conjunta como uma unidade.
Diversos costumes são realizados neste dia tão elevado e um deles é o mergulho na micvê, o banho ritual de corpo e alma.
Antes da sua tão sonhada cerimônia, a noiva tem que imergir nas águas do micvê para que realize de forma plena sua purificação e ascensão de nível espiritual.
Da mesma forma, também para o homem, é recomendável que ele vá ao micvê e se santifique.
A imersão do futuro casal na micvê tem o poder de elevar um ato físico, conectando-o com a santidade Divina.
Como consequência, isso atrai para o marido e a mulher as bênçãos Divinas de paz e harmonia, alicerces fundamentais para um matrimônio bem-sucedido.
Além disso, é costume que os noivos estudem de forma detalhada as leis de pureza familiar com orientadores que dominem totalmente o assunto.
O jejum no dia do casamento, o kítel e o talit
Conforme já foi dito, uma tradição antiga aponta que noiva e noivo devem jejuar no dia de seu casamento. Isso deve ter início a partir do nascer do sol até acabar a cerimônia, realizada em uma chupá, ao ar livre.
O desjejum é feito a sós pelo casal após a cerimônia, em uma sala reservada, onde eles devem ter total privacidade.
Antes da chupá, e durante toda a cerimônia, o noivo deve usar um kítel branco, traje normalmente utilizado em Yom Kipur, sob seu terno.
O kítel lembra uma mortalha e mesmo em um dia tão sonhado e iluminado, o noivo também tem que ter em mente que ele é um mortal, mesmo que esteja em um estado de grande felicidade.
Abordar o dia da morte representa para o casal que o seu matrimônio deve durar até o final de suas vidas.
Outra razão para se vestir o kítel branco é para mostrar a pureza do casal, pelo fato de estarem recebendo o benefício de ficarem com a “ficha” totalmente limpa de seus deslizes do passado para começarem a vida a dois completamente zerados de amarras.
Outro costume muito tradicional é que a noiva presenteie seu futuro marido com um talit. E que ele dê a ela um bonito par de castiçais.
Vestido da noiva, contrato de noivado e de casamento
Nossa história afirma que o Santíssimo, Ele mesmo, foi responsável por enfeitar Eva (Chava), a primeira mulher da história, para a sua cerimônia com Adão (Adam).
Por este motivo, a noiva se prepara o dia inteiro e se enfeita para o tão sonhado e planejado dia.
É costume que ela vista um vestido com cor clara, já que isso é um indício de pureza.
Faz parte da nossa tradição, que, antes da cerimônia do casamento, os contratos, colocados em um texto padrão, são elaborados em documento escrito, que é assinado por duas testemunhas e, claro, aceitos pelos noivos.
As testemunhas têm que ser homens adultos, cumpridores de mitsvot, sem serem parentes dos noivos e nem também entre si.
O primeiro contrato, o do noivado, pode ser realizado com antecedência, mas há uma praxe de celebrá-lo antes da chupá.
Ele é lido e assinado na “Cabalat Panim” (Saudação aos Noivos e aos Convidados), antes de ser feita a cerimônia de casamento.
Depois de realizada a leitura do documento, as mães dos noivos quebram, em ato simbólico, um prato de porcelana.
Este gesto é feito para mostrar que, assim como a porcelana não pode ser remontada com perfeição, as partes envolvidas no contrato de noivado têm que cuidar de não dar para trás e quebrá-lo.
Um contrato de matrimônio detalha as obrigações do marido com sua esposa, como sustentá-la com casa, alimento e roupa, fora os seus direitos conjugais.
A assinatura da Ketubá, o contrato judaico de casamento, é a prova real de que os noivos não vêem o casamento somente como uma união física e emocional, mas também como uma obrigação legal e moral.
Assim como no noivado, dois homens, cumpridores das mitsvot, servem de testemunhas na assinatura da Ketubá, proporcionando que tudo seja realizado conforme a prática tradicional judaica.
Cabalat Panim: a cerimônia de saudação aos noivos; a recepção da noiva e do noivo
A Cabalat Panim é onde começa a celebração do casamento judaico. Trata-se de uma recepção onde o noivo e a noiva são cortejados por familiares e amigos.
Ambos ficam em lugares distintos e as recepções acontecem separadamente, pois o novo casal formado não pode se ver desde uma semana antes do casamento.
Do mesmo modo, diz o mandamento que se deve honrar e louvar a noiva, oferecer tudo o que ela precisa e, essencialmente, alegrá-la nesta importante data.
O Talmud determina que seja disponibilizado um “trono de noiva”. Ela, nesse dia, é chamada de rainha e o noivo, de rei.
Em algumas comunidades, o noivo costuma declamar um Maamar (discurso chassídico de Torá) sobre o significado espiritual do casamento.
Com isto, ele demonstra que, mesmo no momento mais feliz e mais marcante da sua vida, não esquece de D’us e da Torá.
Finalmente, a última fase de preparação ao casamento ocorre quando o noivo, junto com seus pais e alguns dos convidados, dirige-se ao local onde a noiva está recebendo os participantes.
Lá, ele coloca o véu sobre a cabeça dela, que, neste momento, está ladeada pelas duas mães.
Neste instante, é costume os pais abençoarem a noiva, colocando suas mãos por cima da sua cabeça, e proferindo a bênção: “Que D’us te faça como as Matriarcas Sara, Rivca, Rachel e Lea”.
O gesto de se cobrir o rosto da noiva nos faz rememorar a nossa matriarca, Rivca, em seu recato, cobrindo seu rosto com um véu em seu primeiro encontro com Yitschac.
Imitando o gesto desta matriarca, a noiva espera que ela também seja merecedora das bênçãos Divinas em seu casamento.
Outro motivo pelo qual o noivo cobre o rosto da noiva é que a Presença Divina irradia do rosto da noiva neste momento, e por isto deve ser encoberto.
O casamento, as velas e o cortejo
No seu caminho em direção a chupá, o noivo, rodeado por seus acompanhantes, faz uma parada rápida em um local onde irá vestir o kítel, e todos prosseguem até a chupá, seguido pela noiva, que estará acompanhada pelas duas mães e pelas mulheres que estão no casamento.
Os pais que acompanham tanto o noivo, como também a noiva até a chupá seguram velas acesas.
Assim como na entrega da Torá, D’us foi acompanhado pelas duas Tábuas da Lei e por anjos, os noivos são rodeados por seus pais.
Os acompanhantes que levam as velas ficavam à direita e à esquerda dos noivos.
As velas representam, entre outros símbolos, as almas dos entes queridos que partiram e que se unem ao casal nesta noite.
Na sequência, o noivo chega primeiro à chupá: o motivo disso é que um casamento só pode ser alinhado totalmente com o consentimento da mulher.
Por isto, ela vai à chupá para o noivo, ressaltando que deseja firmemente este casamento.
Diz a tradição, que os noivos não devem levar nada nos bolsos, muito menos usem joias durante a cerimônia da chupá.
Isso ocorre para mostrar que cada um é aceito pelo outro por aquilo que é e não por conta das suas riquezas.
Da mesma forma, de modo semelhante, pode-se comparar o noivo ao Sumo Sacerdote, em Yom Kipur.
No Templo, o Cohen Gadol vestia uma roupa branca simples, sem bolsos.
Da mesma maneira que os levitas conduziam os serviços religiosos no Templo com instrumentos musicais, de forma parecida, os noivos têm a importante companhia da música em sua chupá.
Cerimônia a céu aberto: a chupá
A oficialização do matrimônio tem que ser feita, de preferência, a céu aberto, recordando a bênção Divina para que a semente de Avraham fosse igualmente numerosa como as estrelas.
A chupá nos traz a mesma representação de uma casa, onde, brevemente, o novo casal irá determinar a sua união.
Da mesma forma, a chupá significa a vontade de se possuir um lar aberto a todos e acolhedor, tal qual Avraham Avinu fazia com sua casa no deserto.
Igualmente, a chupá ao “abraçar” os noivos simboliza a bênção Divina em resposta a busca de ambos.
Certamente, esta brachá irá auxiliar na consolidação dos seus desejos, de obter um lar baseado sobre a fundação da Torá e de mitsvot.
Ter uma chupá acima da cabeça dos noivos significa que ambas as almas estavam inicialmente interligadas e unidas. O seu encontro, a sua união, o casamento dá forma realmente a reunificação dessas almas.
Também, a chupá nos remete a revelação no Monte Sinai, onde Am Israel foi consagrado a D’us, quando foi erguida a montanha acima de suas cabeças, assim como ocorre com uma chupá.
Ela simboliza ainda o conceito da harmonia conjugal, que pode ser atingida somente com amor e respeito mútuo.
O respeito e, da mesma forma, a consideração nos mínimos detalhes são indicadores de um relacionamento onde realmente prevalece o afeto, tornando-o absolutamente saudável.
As sete voltas no noivo
Assim que chegam na chupá, a noiva e os pais circundam o noivo sete vezes.
Trata-se de um costume de origem cabalística, propagado entre as comunidades judaicas ashkenazitas.
As sete voltas fazem alusão aos sete dias da Criação.
Contudo, há outros significados das sete voltas.
Rememora as sete expressões de noivado entre D’us, o noivo, e Israel, a noiva.
Relembra, ainda, as sete vezes que enrolamos as tiras dos tefilin no braço do homem.
Do mesmo modo que o homem se liga em amor a D’us, igualmente, ele é “amarrado” com sua esposa.
Ao terminar este ritual, a futura esposa permanece ao lado direito do marido, em uma prova de que vai estar sempre junto dele para enfrentar qualquer situação e oferecer todo o tipo de ajuda.
Uma vez que o casamento é uma mitsvá, preceito Divino, uma bênção é realizada antes que a cerimônia seja oficializada, em agradecimento pela santificação de D’us a essa união.
O matrimônio judaico torna-se sagrado por todo o significado que cerca a cerimônia em todos os detalhes, por meio de “kedushá”, consagração, e todas as bases que irão constituir o novo lar e o relacionamento do casal.
Colocação da aliança: o ato central da união
O momento em que o noivo coloca a aliança no dedo da sua futura esposa simboliza um dos atos mais importantes do casamento.
Neste instante, o casal, conforme, as leis judaicas, é considerado casado.
A aliança representa o elo em uma corrente. Do mesmo modo, um círculo sem fim, que simboliza o ciclo da vida.
O simples ato de dar o anel também significa a transferência de poder e de autoridade.
O marido, de modo simbólico, outorga à sua esposa a soberania sobre sua casa e tudo o que está dentro dela.
A partir deste momento, todo o conjunto na vida do casal será repartido, com o anel que foi concedido na cerimônia de casamento simbolizando a proteção que o marido fornece à sua esposa: assim como o anel envolve o dedo, também a proteção irá envolver sua mulher.
O anel também tem o significado de confiança, lealdade que englobará o casal pelo resto de suas vidas e um círculo inquebrável e ilimitado entre marido e mulher. A tradição é que a aliança seja redonda, de ouro sólido, simples e totalmente lisa.
O anel não deve conter pedras preciosas, nenhum desenho ou gravação, nem mesmo por dentro.
O anel tem que ser colocado no dedo indicador da mão mais forte da esposa.
Antes de fazer esse gesto, o noivo diz o esta frase:
“Com este anel, tu és consagrada a mim, conforme a lei de Moshe e de Israel”.
Na sequência, são as testemunhas que falam: “Está casada”.
A ketubá é lida logo em seguida, em voz alta, para todos escutarem e logo depois são recitadas as Sheva Brachot (Sete Bênçãos) ao novo casal.
O noivo quebra o copo
A cerimônia de matrimônio se encerra com o noivo quebrando o copo de vidro.
Com este gesto, todos são lembrados que, mesmo no dia de nossa maior alegria, nós nos recordamos da destruição do Templo Sagrado de Jerusalém e desejamos a sua reconstrução.
Esse ato também nos rememora sobre as primeiras Tábuas da Lei, que foram quebradas por Moshe depois da união celebrada entre D’us e Am Israel.
Da mesma maneira, ao quebrar o copo, o noivo (chatan), nos lembra que somos simples mortais e que temos a obrigação de nos casarmos e nos multiplicarmos.
E, ainda, que com o nosso sincero arrependimento, somos perdoados.
Depois da quebra do copo, é encerrado o clima solene da cerimônia e substituído por danças, alegria e muita música.
Cabe aos convidados a tarefa de alegrar os noivos, dando, de forma expressa, apoio ao casal que acabou de se formar.