Amor é aquilo que você sente quando encontra a pessoa certa? É um sentimento que você desperta? Já está dentro de uma pessoa e não necessariamente na outra?
Essa é uma pergunta muito filosófica e abrangente. Porém, na prática, é muito mais simples do que parece.
No geral, as pessoas acreditam que amor é uma sensação. Algo que pode estar baseado em atração física, emocional, empatia, que surge magicamente, espontaneamente.
Mas se fosse isso, esse sentimento poderia desaparecer, com a mesma facilidade que surgiu.
Acabou a atração, desapareceu o amor. Não há empatia no que se viu ou ouviu, o amor não está mais ali.
Infelizmente essa definição equivocada do amor, mostra como muitos relacionamentos são descartáveis.
Então, o que é o verdadeiro amor?
Podemos dizer que o amor sólido, construído ao longo dos anos, está ligado diretamente ao conceito de bondade.
Se você consegue identificar as qualidades de uma pessoa, mais do que seus defeitos, ou seja, se você a enxerga “com bons olhos” e julga suas ações para o bem, certamente você amará essa pessoa.
Ou seja, a bondade é verdadeiramente um alicerce para o amor.
Alguns dos sinônimos para bondade: altruísmo, benevolência, amabilidade.
Embora a maioria das pessoas acredite que o amor leva a doar, a verdade é exatamente o oposto: doar leva ao amor.
Quando, de fato, estamos empenhados em dar e não receber, percebemos que somos realmente capazes de amar.
Quanto mais você dá, mais você ama. É por isso que no geral os pais amam os filhos mais do que eles os amam.
Em contrapartida, quando sentimos que somos amados, existe a tendência de ter este sentimento dentro de nós.
Como isso funciona? Há uma percepção extra-sensorial no coração que consegue ler os sentimentos no coração de outra pessoa?
Nossos corações captam pistas em nossos sentidos
Tudo o que vemos, ouvimos, provamos, tocamos ou cheiramos, na realidade, nos ensina sobre o nosso universo.
Nossos órgãos sensoriais enviam mensagens ao nosso cérebro; ele interpreta os dados e envia um “relatório” ao nosso coração.
Como está escrito e explicam nossos sábios, há um “efeito espelho”.
Assim como na água límpida, o rosto é refletido, e há um efeito espelho, também no coração, essa questão se aplica de pessoa para pessoa.
Existe um princípio básico, natural e espontâneo do ser humano. Uma lei de reciprocidade em termos de sentimento. Aquilo que expressamos é aquilo que receberemos de volta.
Isso deve ser interpretado como um fenômeno instintivo e automático.
Quando alguém se coloca diante do espelho é automático que haja o reflexo.
Assim, quando o coração de um indivíduo, ama outro individuo devotadamente, então esse amor desperta o amor no coração do seu próximo também.
Isso transborda naturalmente e cria uma reação de reciprocidade: o resultado é que os dois se amam e são devotados mutuamente.
Existe esse efeito bumerangue que tem muito a nos ensinar em todas as áreas da vida, em termos de relacionamento humano: na união conjugal, ou entre pais e filhos, ou nas relações sociais e comerciais.
Aquilo que você manda e expressa é aquilo que o outro lhe devolve. Isto ocorre mesmo sem manifestar, expressar e declarar este amor.
E, assim mesmo, o outro sente a necessidade de retribuir-lhe. E isso é revelado pelas ações práticas!
Se observamos um sorriso amoroso, escutamos palavras de carinho, nosso intelecto processa isso e conclui: “estou mesmo sendo amado”.
Em resumo, quando isso ocorre, existem provas palpáveis.
Não se trata de um pensamento ou sentimento abstrato, ele é concreto e evidenciado. Simplesmente, quando somos tratados com amor, não somente nosso coração sente isso, mas também nosso intelecto.
Como saber se amamos alguém?
Simplesmente, a resposta é direta. Quando sentimos a necessidade de ter um comportamos amoroso com alguém, significa que, sim, amamos essa pessoa.
A palavra em hebraico para amor é “ahavá”. Ela nos mostra essa verdadeira definição de amor, já que ahavá é edificada sobre consoantes de raiz que significam “dar”.
Para que o amor seja verdadeiro, ele deve ser categórico, com uma ação ligada ao conceito de bondade.
Se você ama, então deve demonstrar isso.
Da mesma maneira, se você é amado, isso será claramente evidenciado, reconhecido, pelo modo como você é tratado.
D’us nos ensina como amar
Como está escrito na declaração do Shemá, que recitamos todos os dias, D’us nos ordena: “e você amará o Senhor teu D’us”.
Este preceito nos leva a fazer a velha pergunta: “Como podemos ser comandados e ter um sentimento?” Ou você sente ou não, correto?
Uma resposta que é oferecida pela nossa tradição, afirma que não estamos sendo ordenados a interiorizar um sentimento no sentido abstrato.
Ao contrário, o comando Divino é para interagirmos com amor!
Assim sendo, a frase “e você deve amar”, na verdade, significa: “vocês devem realizar atos de amor”.
Este é o verdadeiro teste: ação, feitos e desempenho.
Os sentimentos, em diversas ocasiões, podem ser ilusórios. Às vezes, o que percebemos como amor pode, de fato, ser outra emoção, outro sentimento, na verdade.
Contudo, as ações não devem ser confundidas.
Desta forma, ao invés de perguntar, “O que é o amor?”, temos que questionar, “realizo atos de amor por meu amado?” E, ainda: “o meu amado faz atos de amor por mim?”
Casamento judaico se inicia com a Ketubá
O casamento judaico se inicia com a assinatura da Ketubá (documento legal do casamento). Nela, o noivo promete ser um marido bom e fiel.
O primeiro parágrafo logo traz a declaração de que o cônjuge se compromete com sua nova esposa, dizendo: “Eu trabalharei para você, a respeitarei e a sustentarei.”
Uma palavra essencial que pode parecer que está faltando neste importante documento é o “amor”.
Muitos poderiam dizer que um matrimônio bem-sucedido é aquele onde marido e mulher se amam profundamente.
Amor é o que os une e cria laços profundos e harmoniosos.
Sendo assim, por que esse fundamental conceito não é citado diretamente no documento?
Para que um relacionamento se desenvolva e evolua, temos que aprender a respeitar, valorizar e manter a individualidade da outra pessoa, que pensa de modo diferenciado, sente de forma divergente, e vê o mundo de uma forma diferente da nossa.
Amor deve ser baseado em alicerces de profundo respeito
Lamentavelmente, não é incomum ver relacionamentos que se iniciam com um intenso romance e logo se “decompõe” de modo rápido, assim que uma pessoa repara que o outro não é o ser humano perfeito, como ela idealizava inicialmente.
Para o amor ser correto, verdadeiro, e ter longa duração, deve ser baseado em alicerces de profundo respeito e expresso através de atos.
Apenas quando respeitamos de forma genuína a individualidade da outra pessoa, é que podemos realmente amá-la.
A Ketubá nada mais é do que o alicerce do casamento. “Eu trabalharei para você, a respeitarei e a sustentarei.”, nada mais são do que a essência do amor que está em demonstrar, através das ações e o respeito.
A meta dessa união é o amor e a conexão.
Para que o verdadeiro amor seja alcançado, o respeito e as ações têm que vir em primeiro lugar.
Quando a base é construída com respeito mútuo, saudável, lembrando o efeito espelho em demonstrar e expressar o sentimento, então o amor torna-se sólido e com grande possibilidade de tornar-se duradouro.